Seguindo os passos dos Beatles em Liverpool





A associação imediata entre música e esporte na Inglaterra ficou mais do que evidenciada na abertura e no encerramento das Olimpíadas de Londres, com um desfile impressionante de bandas e cantores que fizeram (e fazem) da ilha uma poderosa capital musical do mundo. Visitar a Inglaterra é mergulhar de cabeça em várias das minhas paixões. Assim como o futebol merece um roteiro especial por todo o país, qualquer fã de rock se perde entre tantas atrações musicais. São inúmeros locais especiais, de simples estúdios a ruas, casas, bares e marcos de um som que, se não nasceu na Grã-Bretanha, foi lá que se transformou definitivamente em arte. Tão ligado à cultura popular inglesa quanto o futebol, o rock faz parte do dia a dia da terra da rainha. Aproveitando essa semana que antecede mais uma edição da Premier League, esse é o primeiro de alguns posts que vão ser dedicados ao rock britânico. Para começar, nada mais indicado do que uma busca por locais relacionados aos Beatles em Liverpool.




Cartaz da Beatle Week e objetos ligados à banda no Cavern Club: um local que respira Beatles


Visitar um local onde foram criadas inúmeras das canções que marcaram sua vida não é uma coisa das mais fáceis. Entender também como viveram e por onde andaram seus ídolos mexe com qualquer pessoa. Para ter uma ideia melhor da cidade e dos diversos locais onde passaram os Beatles, optei por gastar a sola do sapato, andar por várias ruas e me deslocar de ônibus por todos os cantos, evitando os previsíveis roteiros turísticos que existem na cidade. 


Strawberry Field: inspiração para uma grande música e ponto chave na história de Lennon


Uma experiência das mais bacanas foi visitar Mendips, casa em Menlove Avenue, onde John Lennon passou boa parte de sua infância e adolescência, na casa da Tia Mimi. Não tão longe de Forthlin Road, onde Paul viveu, Menlove era de onde John saía para ir a Strawberry Field, antigo orfanato mantido pelo Exército de Salvação Britânico e em cujos jardins John curtiu várias brincadeiras com amigos de infância. Chega a arrepiar fazer esse trajeto e tentar, nem que fosse por um segundo, entrar em uma máquina do tempo e visualizar Lennon naquela região.   




A casa onde John viveu sua infância e adolescência (acima) e 
a residência de Paul (abaixo), de onde surgiram várias das canções mais famosas do mundo




Foi exatamente em Menlove Avenue que uma das maiores tragédias da vida de John aconteceu. A poucos quarteirões de onde a irmã Mimi morava, Julia, mãe de John, morre atropelada em uma época em que Lennon, aos 17 anos, reatava uma relação quebrada desde o início de sua vida. Não dá para passar nesse lugar e não imaginar várias músicas que surgiram a partir desse acontecimento.




Na Menlove Avenue, onde John viveu com a Tia Mimi e palco da triste morte da mãe, Julia



Também na região de Woolton, onde John vivia com a tia, fica a Igreja de São Pedro, outro ponto que estava no meu roteiro por uma razão especial. Foi ali, no fundo da igreja, durante uma feira local, que John se exibiu com os Quarrymen e onde Paul e ele se encontraram pela primeira vez. 



A igreja de São Pedro, construída em estilo neo-gótico no século 19, guarda muitas coisas especiais. No antigo jardim onde John e seus amigos de banda se exibiram hoje está um cemitério (foto ao lado), mas alguns túmulos que circundam a igreja merecem uma atenção especial e é sempre surpreendente encontrá-los. Escondido entre vários outros está o do Tio George, marido de Mimi e figura fundamental no crescimento de Lennon. Um pouco mais a frente está... Eleanor Rigby, citada na lápide entre vários outros membros de sua família. Se é ela ou não a inspiração para a música definitiva de Paul McCartney é o que menos importa. Difícil era tirar a brilhante melodia da cabeça.



Os túmulos de Eleanor Rigby e do tio de John, George, na mesma igreja onde John se apresentou pela primeira vez

Mas é do outro lado da rua que Saint Peter´s Church guarda uma preciosidade. Em uma espécie de casa paroquial que, na época da apresentação dos Quarrymen funcionou como um camarim, John e Paul conversaram pela primeira vez. Era 6 de julho de 1957 e o mundo, definitivamente, seria diferente a partir daí. Uma placa marca o local do encontro e eu, estupefato, demorei a conseguir tirar os olhos dela.



Foi ali, naquele lugar, onde John e Paul foram apresentados. Acima, a placa com a data histórica. O mundo iria mudar a partir daí...

À medida que caminhava pelas ruas e me localizava através dos folhetos com os trajetos dos ônibus, que invariavelmente traziam alguma referência beatle, apareciam debaixo do meu nariz uma série de referências não apenas das músicas que ouvi, mas também das biografias que li e que me ajudaram muito a entender melhor as letras e as situações que as criaram. Pegar um ônibus para a Penny Lane já seria algo muito divertido de fazer. 



Na  Penny Lane: referências ao som da banda a cada esquina




As pernas tremeram a cada olhar, desde aquele que encontrou o bar Sgt. Pepper´s, passando pela visão do inusitado ônibus Magical Mystery Tour, que passa (com uma trilha sonora óbvia em seu interior) com os turistas pelos pontos mais importantes do Fab Four na cidade, até a igreja em que entrei e fui atendido por uma simpática senhora que me informou: "Paul foi coroinha aqui"....




Era muita proximidade de muitas coisas que jamais imaginaria estar tão perto. O pub em High Park Street, próximo de onde Ringo viveu na infância e que depois virou capa do disco "Sentimental Journey", a casa onde o empresário Brian Epstein morou, as imediações do local onde George cresceu....


Ringo passou a infância na região deste pub, enquanto George Martin, o empresário e mentor dos Beatles, vivia nesta bela casa


Em cada canto que eu olhava, uma referência beatle parecia me indicar para onde olhar. O letreiro do ônibus que informava o trajeto até o John Lennon Airport, o McCartney´s Bar, as estátuas dos quatro na fachada do Hard Days Night Hotel, uma infinidade de detalhes e um clima único.








Cada visitante apaixonado por rock e pelos Beatles se identifica mais com algum lugar ou que faça referência a alguma fase musical de sua preferência, mas poucos passam batidos pela emoção de visitar o Cavern Club, na Matthew Street. Escutar Beatles lá dentro, então, me remeteu a um tempo que não vivi, mas que sempre fez parte da vida, por mais paradoxal que isso possa parecer.


Sim, é uma banda cover, mas é difícil conter a emoção ao ver um show no Cavern Club




O Wall of Fame, de frente para o Cavern Club: história da música inglesa - e mundial

Na rua, uma estátua de Lennon em frente ao Wall of Fame parece sintetizar um pouco de todo aquele turbilhão de emoções que eu vivi visitando Liverpool. A parede da fama reunia, em cada tijolo, os nomes dos músicos e bandas que tocaram no Cavern. A lista, impressionante, mostra, claro, além dos Beatles e de cada integrante do quarteto em separado, os nomes dos Rolling Stones e do Who, as duas outras pedras fundamentais do rock inglês, gênios e clássicos de todas as épocas como Eric Clapton, Queen, Oasis e Arctic Monkeys. Um retrato perfeito do que uma viagem musical pela Inglaterra pode permitir.





Em breve, outros posts sobre locais voltados para o rock na Inglaterra e mais espaço dedicado ao rock no blog. Não percam!

Comentários

  1. Por tudo que curtimos quando a vida adulta era só um por vir, fico meeeeeega feliz ao vê-lo nesse 'cenário'. E bem sei que o significado disso tudo vai além do belo texto...
    Você tinha razão, gostei muito...!

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  2. Sensacional. Quem me conhece sabe que não sou fã de Beatles, mas respeito muito a história e importância dos caras para o rock and roll, além de curtir algumas canções. Registros maravilhosos...

    Forte abraço !!!!

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  3. Fui em todos esses lugares, Fred!! Mas tenho um a mais: a casa onde o George nasceu!!! Adorei o post!

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  4. Obrigado pelos elogios. Lembro a todos que ainda virão outros posts musicais por aí!

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  5. Legal demais as suas memórias de viagem. Parabéns

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  6. Coisa linda, Fredim! Parabéns pelo excelente texto. Não tem como não se emocionar...

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  7. Oi Frederico!
    É de arrepiar esse seu relato.
    Sou louco pelos Beatles e meu sonho é viver em Liverpool durante o tempo para sentir todo esse encanto, sem correria, sem pressa.
    Estou planejando ir em Agosto deste ano, durante a Beatles Week. Meu objetivo e registrar toda essa experiência posteriormente no meu blog de viagens, o Across The Universe, que eu nem preciso dizer de onde veio a inspiração para o nome.
    Obrigado por compartilhar na web a sua experiência.
    Marcelo Lemos

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  8. Obrigado pelo elogio, Marcelo. Não sei se viu o outro post sobre os Beatles em Liverpool que eu fiz, especialmente sobre o museu, que pode ser visto neste link: http://fredericojota.blogspot.com.br/2012/08/museu-dos-beatles-em-liverpool-uma.html . Em breve vou postar outras novidades (e locais) não só dos Beatles como também de outras bandas inglesas aqui no blog. Abraço!

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