Ademir, autor do primeiro gol de uma Copa que o Brasil não gosta de lembrar

Ademir de Menezes é até hoje o único a marcar um gol inaugural de Copa e terminar 
o torneio como artilheiro. O craque e o Brasil sucumbiram ao Uruguai em 1950


A primeira Copa do Mundo após a Segunda Guerra Mundial ainda trazia resquícios da batalha terminada cinco anos antes. Em 1950, o Mundial retornava à América do Sul e coube ao Brasil ser o palco da competição. A Alemanha, desfigurada e banida (assim como o Japão), foi uma ausência sentida. A Itália, também devastada após a guerra e com a base de seu time morto no trágico acidente com o elenco do Torino em 1949, não veio com sua força máxima. Entre as grandes seleções, outras ausências marcantes foram as da Argentina, que nem disputou as eliminatórias, e da França, que recusou o convite para vir ao Brasil. No final das contas, uma Copa com 13 seleções, divididas no melhor estilo dos regulamentos dos estaduais brasileiros: dois grupos com quatro times, um com três e um com dois (!).

Um dos grupos formados por quatro seleções era o do Brasil, que abriu a Copa no recém-inaugurado Maracanã. E gente não faltou para acompanhar de perto a abertura do Mundial. Às 15h locais do dia 24 de junho, 81.649 pessoas viram o Brasil golear o México por 4 a 0 pelo grupo 1. Coube ao futuro artilheiro da Copa marcar o primeiro gol daquela competição. Ademir de Menezes, o ídolo do Vasco, fez 1 a 0 para a seleção brasileira aos 30 minutos de jogo. No segundo tempo, Jair e Baltazar aumentaram a vantagem e o próprio Ademir fechou o placar, aos 34 minutos. Ademir ainda faria mais seis tentos no torneio. É, até hoje, o único jogador que fez o gol inaugural de uma Copa e que terminou como artilheiro da competição.

Confira no vídeo abaixo imagens da abertura da Copa e alguns lances da partida. O momento do gol de Ademir está registrado em fotos:





Veja Ademir nos traços de André Fidusi, com quem assino esta série sobre os jogadores que marcaram os primeiros gols de cada Copa do Mundo:



Como todos sabem, o Brasil chegou à fase final do torneio como franco favorito. Não havia decisão, já que a fase decisiva era formada por um grupo de quatro seleções, as vencedoras de cada um dos grupos. Entre elas, o Uruguai, que fez apenas um jogo para chegar à final. Os uruguaios estavam naquele grupo que tinha apenas duas seleções. A outra era a Bolívia, goleada impiedosamente por 8 a 0 no estádio Independência, em Belo Horizonte. Muitos não sabem, mas bastava ao Brasil um empate no dia 16 de julho contra o Uruguai, já que os brasileiros venceram Espanha e Suécia, enquanto os uruguaios tinham empatado com os espanhóis. O que todo mundo sabe é que o Brasil perdeu (2 a 1),  uma tragédia esportiva sem precedentes no país, com julgamentos e injustiças sofridas por anos pelos jogadores brasileiros. Até mesmo a camisa branca foi aposentada. Teria dado azar. O fato é que abriu caminho para a utilização do amarelo, famoso até hoje.

Ótima média
Revelado pelo Sport, o pernambucano Ademir tinha 27 anos na época da Copa do Mundo. Chegou ao Vasco em 1942, teve uma passagem pelo Fluminense entre 1946 e 1947 e voltou com tudo ao Vasco no ano seguinte. Ficou no clube de São Januário até 1956 e até hoje é o terceiro maior artilheiro do clube (atrás de Roberto Dinamite e Romário), com 301 gols em 429 jogos. Pela seleção, sua média é bem alta. Fez 35 gols em 41 partidas. Abandonou o futebol em 1957, atuando pelo Sport, seu clube de coração. 

Ademir morreu aos 73 anos, em 1996. Ganhou o respeito dos vascaínos pelos títulos que conquistou e pelos gols que marcou, mas em um país que não costuma digerir bem derrotas e nem aceita um segundo lugar, é pouco lembrado pela maioria dos torcedores da seleção brasileira. Mesmo sendo vice-campeão mundial, um feito para poucos.

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